O abusador tem a habilidade de transformar um gatinho num leão, uma flecha numa lança, uma casa de formiga num poço tão profundo quanto as suas dores intocáveis. Portanto, se cria na vítima, aquela pessoa que é abusada, uma miragem aterrorizadora de que qualquer movimento em falso possa custar a sua existência e, assim, ser devorada pelo predador, que se utiliza de diferentes máscaras para que a sua face mais atuante, a perversa, permaneça intocada.
Isso mesmo: predador. Os abusadores são predadores emocionais.
Mesmo que o gatinho seja apenas uma miragem de leão, um leve arranhão em feridas abertas intensifica a dor em grau muito maior do que se a pele estivesse intacta. E mesmo que assim estivesse, arranhões constantes causam lesões e, consequentemente, dores que nunca se curam em tempo suficiente, se depender das “insignificantes e inocentes” patadas do gatinho que, sem limites, com as garras expostas e afiadas, causam sofrimento à nossa pele tanto quanto as patadas de um leão.
Analogia similar faço com uma flecha que, mesmo não tendo o tamanho de uma lança, também nos coloca numa posição intensa e permanente de defesa. Se a lança é maior e, portanto, mais perceptível, também exige alguma aproximação arriscada para quem a manuseia: o ataque acontece face a face ou, quando pelas costas, denuncia a covardia e desonestidade do algoz. Por outro lado, a flecha, por possibilitar ser atirada a longa distância, dificulta a identificação do verdadeiro autor, em que o alvo se vê atingido como numa chuva de agulhas, de modo que precisa se abrigar em local seguro na árdua tentativa de identificar a origem dos ataques.
Então, só resta à vítima fazer uso das armaduras e escudos que a vida lhe forneceu para diminuir os impactos dos projéteis que vêm desavisados, já que não está nos planos do guerreiro, na batalha forjada por ele, anunciar o início do embate.
Contudo, nem a melhor das armaduras nem os maiores dos escudos nos impedem de sermos atingidas ou sentirmos os baques de ser uma presa em convivência com o atormentador. Muito menos ainda quando baixamos a guarda, pois na lei da selva do predador emocional, as investidas nunca cessam, apenas pausam quando a vítima abdica de seus limites e proteções.
E mesmo que o poço não seja tão interminável assim, a vertigem não nos revela a sua real profundidade. O que demanda tempo planejar um possível resgate ou pedido de socorro. É nesta etapa que o Deus criador desse poço, o nosso algoz, estará lá para aterrar o poço que ele mesmo cavou com seus próprios pés, exclusivamente para as suas presas. Porém, ao final do resgate, Ele nos culpará e ainda anunciará o começo da nossa próxima queda, diante de qualquer tentativa de escape: Preste atenção, querida. De cada amor, tu herdarás só o cinismo. Quando notares, estás à beira do abismo. Abismo que cavaste com teus pés.
Abusadores emocionais são verdadeiro mineiros, em que a insegurança da presa é a mais cobiçada riqueza com que eles constroem muros e obstáculos com a sobra de areia do seu próprio túmulo para, assim, isolar-se com a vítima.
São como leões famintos que rodeiam a sua caça ameaçando devorá-la a qualquer sinal de vida ou reação não desejada ou a qualquer tentativa de sair do buraco movediço.
Por isso, o melhor escudo contra esses predadores, assim como faz uma presa que espera seu algoz desistir de seu suprimento, é a não reação, seguida da retirada repentina e desavisada, um plano de fuga, quando ainda estamos sob as suas garras. Ou a não reação pelo contato mínimo ou descarte total, quando já estamos num lugar seguro, livres das garras do predador emocional.
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