Recife, 30 abril 2009, quinta-feira
Lembro-me como hoje, o dia em que fui ao terreno vazio, que hoje está ocupado por uma casa, pegar um mato; um ramalhete de mato, o mais bonito. Coloquei-o junto à carta que havia feito e corri pra lhe dar. Não era a primeira carta. Nem a última, ainda. Vi um sorriso. A minha memória se degrada com o tempo, mas o tempo não apagou o seu sorriso. Lembro-me dele quando dei a carta. Lembro-me dele quando dei o presente do dia das Mães. Não lembro o que eu escrevia nas cartas, nem de todos os presentes, mas me lembro dele quando eu terminava de ler um texto e a senhora me dizia que eu iria ser uma jornalista. Nesse tempo eu já sabia que não queria ser médica, nem cuidar de criança, nem de animais; mas eu já sabia que eu lia bem. Pronunciando o “s”.
Acreditávamos que esse seria um bom ano, mas está sendo tudo mais difícil. Muitas lágrimas. Sorrisos mascarados. Recordo-me de muitos momentos e prefiro não ter tido tantos outros. Nunca pensei que ser adulto era tão complexo. Somos uma geração. Caos. Quando adultos sabemos quando criança. Quando criança eu não sabia o que era ser adulto, agora eu sei o que é ser criança. C’est la vie, é o que dizem.
No fim das nossas esperanças eu pergunto “o que é a vida?”, e ninguém me responde. Ninguém me responde.
Eu havia pensado em lhe escrever uma carta, como eu escrevia quando criança, enquanto eu não estava podendo lhe visitar devido à gripe. Havia pensado em escrever muitas coisas. De como estávamos, de que eu estava escrevendo uma carta à la antiga, do livro que estamos escrevendo, da minha vontade de registrar as suas histórias, a sua vida; de que estávamos ensaiando bastante para a nossa primeira apresentação quando a senhora retornasse a sua casa, da fé…
Mas me faltou coragem. Não sei que tipo de coragem.
As crianças são verdadeiras.
Não sei se estou com coragem nem se voltei a ser criança. Mas voltei a escrever-lhe cartas.
A EPBM.