Amor revela-se na presença

Não quero mais perder meu tempo e energia buscando uma imagem que já não existe mais, um frágil espectro. Quem é pobre e periférica não tem muito espaço para reincidências. Passado é sinônimo de pretérito. Verossimilhança da nostalgia. Cuspo o que ainda há de vazio em mim, travando guerra com suas melancolias. Meu corpo já não suporta afetos econômicos. Perdi na bolsa de valores do status. Meu relógio está entre a paralisia e a urgência de começar, finalmente, a viver e amar em liberdade. Reviver novas dores, prisões alheias, não corresponde à minha atual razão. Anseio apenas pela presença e permanência de quem não faz mistério na simplicidade de uma rotina tranquila, do querer estar, fazer-se aqui, agora ou no momento que precisar. Cansei do tabuleiro onde meus sentimentos são jogados como cartas de canastra. Posso até tentar. Mas não sei me acomodar em prateleiras nem em pódios tão frágeis quanto as motivações de quem os inventou.

Muito tempo se passou, e teu entorno não me cansa de demonstrar as diferentes formas de valor do teu respeito por mim: tão ínfimo que dessa vez nem chorei, sorri.

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Amor revela-se na presença. Funda-se na permanência. No querer estar.

Poema escrito em 28 de março de 2024.



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