As mulheres são corriqueiramente difamadas em qualquer exercício de autonomia e expressão do seu próprio ser e estar no mundo que possam anunciar o desmembramento, isto é, a plena desimportância da figura do macho.
Mulheres são sempre histéricas. Mulheres são sempre loucas. Mulheres são sempre esquizofrênicas. Mulheres são sempre burras. Mulheres são sempre fracas. Mulheres são sempre complicadas. Mulheres são sempre imperfeitas. Mulheres são sempre insuficientes. Mulheres são sempre sensíveis. Mulheres são sempre a personagem pecadora na peça macabra dirigida pelo macho em prol da manutenção do patriarcado. Onde mulheres são sempre objetos, nunca sujeitos. Uma embalagem feita para ser usada e descartada quando não mais servir ao ego de narciso. Uma embalagem na qual se estampa o rótulo mais atrativo ao desejo do consumidor: com adjetivos pejorativos que têm a função de revestir a mulher de inseguranças, na intenção de desestabilizá-la e mantê-la no cabresto.
Uma mulher potente ativa as inseguranças do medíocre.
Rótulos sutis e rotineiramente aplicados no nosso cotidiano como uma das principais ferramentas de manipulação psicológica para nos manter num lugar confortável ao algoz: abaixo, bem abaixo do frágil e elevado ego do macho, sendo o gaslighting a tática mais banal na produção de ficções e difamações. Inventam-se verdades, confunde-se a vítima mentalmente. O circo é armado para que se facilite o descrédito sobre o alvo. O algoz se mascara de vítima e a vítima recebe a marca de algoz.
Estratégias de manipulação psicológica, como o gaslighting, também são ferramentas de desresponsabilização do macho infantil, preso às suas fases mais pueris. Geram-se ciclos tóxicos pela culpabilização da vítima, diante da eterna insatisfação do abusador.
Desresponsabilização doméstica, desresponsabilização afetiva, desresponsabilização financeira, desresponsabilização patrimonial, desresponsabilização parental etc. A desresponsabilização se configura em muitas áreas e ecoa misoginia, na qual se culpabiliza mulheres, criam-se obstáculos para as mulheres, retardam-se avanços de mulheres etc., mas, especialmente, desresponsabilizam-se os homens da máquina de sacrifício de mulheres – ou qualquer outra forma de expressão dissidente ao ego narcísico – que eles mesmo ficcionalizaram e ainda mantêm as mãos de punhos cerrados na manivela do triturador – embora insistam em reafirmar que são diferentes de todos os outros.